PATRÍCIO JOÃO PINHO LEITE

Meu filho, amigo e parceiro: a memória ensinando a viver com a saudade de Patrício

Patrício nasceu em Fortaleza, no bairro São Miguel, em 10 de junho de 1999. Sua mãe, Netinha, recorda das dificuldades do parto e das incertezas vividas durante a gestação, causadas principalmente pelo seu então companheiro. Após o nascimento, Netinha enfrentou o desafio de criar Patrício praticamente sozinha, pois se separou do pai do menino devido ao seu comportamento agressivo e alcoolismo.

“A gravidez dele foi assim… Não foi planejada, não, mas tive ele com muito carinho e muito amor, e era o primeiro filho do pai dele, e da família do pai dele — e da parte da vó dele, era o primeiro neto, né? Aí tive ele no Gonzaguinha, e ele foi o maior de todos os filhos que eu tive: nasceu com 3kg e 300g, com 47 cm. Aí depois nós viajamos com o pai dele pra Belém, ele pegou uma pneumonia, fui pro hospital geral de lá. Ele era pequeno, mas se recuperou, fiquei lá com ele. Aí foi crescendo… sempre ao meu lado!”, relembra a mãe, Netinha.

Mesmo após a separação, Patrício manteve contato com o pai e a família paterna. Sua alegria de viver foi ameaçada quando seu pai foi assassinado, quando Patrício tinha cerca de 8 anos. Netinha pôde ver nos olhos do filho a dor e a tristeza pela primeira vez. A vida de Patrício, como jovem morador da periferia, não era fácil, mas ele sabia que precisava ser forte para enfrentá-la.

Netinha lutava para garantir o sustento de ambos, trabalhando com material reciclável, lavagem de roupa e faxina. Ela contava com a ajuda da família para viver. Patrício começou a se identificar com o futebol aos treze anos e tinha o sonho de ser um grande jogador. Ele ia todos os dias ao campo jogar e Netinha fez sua inscrição na escola de futebol do bairro.

Durante sua infância, Patrício não perdia uma partida de bila (bola de gude), muito menos de pião! Ele e seus amigos — que eram vizinhos, pois moravam todos na mesma rua — faziam um grande círculo na rua estreita da sua casa e passavam horas brincando e disputando quem era o melhor jogador de cada partida. Netinha contou o quanto seu filho se divertia brigando com a irmã.

Na adolescência, Patrício se tornou um jovem rebelde e vaidoso, conquistando as garotas da escola e do bairro. Netinha fazia sacrifícios para suprir as demandas do filho, mas a pobreza era uma constante em suas vidas. Patrício tinha receio de sair da favela e lidava com o medo de territórios desconhecidos, devido às facções criminosas. Ele aproveitava os momentos livres para jogar videogame, conversar com amigos e paquerar as meninas.

Patrício era uma alegria na casa de Netinha, enchendo-a de risadas. Os dois tinham momentos de conflitos, mas também compartilhavam uma relação de amor e cumplicidade. Patrício gostava de dançar, ouvia funk e se divertia nas festas de família. Netinha sente falta de abençoar seu filho toda vez que ele saía de casa.

Netinha conta que tinha medo de morrer e deixar seu filho no mundo sozinho: viver na favela a cada dia ficava mais difícila polícia dentro da favela pensa que todo mundo é vagabundo. Mesmo morando no bairro há décadas, vez ou outra batia a vontade de ir embora daquele lugar, que despertava sentimentos de alegria, acolhimento, medo e insegurança. 

Assassinado na esquina de casa

A morte de Patrício, assassinado na esquina da sua casa, deixou um vazio imenso na vida de Netinha. Ela buscou forças para continuar vivendo, mas ainda lida com a dor e evita remexer muito nas lembranças. Passaram-se quase cinco anos desde a perda de Patrício, mas a dor continua presente.

Netinha encontrou em Deus a força para seguir em frente, mesmo com a saudade e a memória.

A memória é uma parte essencial da vida, envolvendo afetos, lembranças e lugares. Ela registra nossa história e nossas relações vividas, sendo como uma cidade natal para nós. Netinha utiliza fotos de Patrício pela casa como forma de mantê-lo próximo e combater o esquecimento. A ausência de Patrício é cheia de saudades e memórias.

Resumo do texto que consta no livro Onze, organizado pelo Movimento de Mães e Familiares do Curió